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Miguel De Almeida

Tomie Otahke

O trabalho de Tomie Ohtake (1913–2015) é um dos grandes exemplos de modernidade inovadora dentro da arte brasileira. Japonesa de nascimento, ela chega ao Brasil no momento em que os petardos da turma de 1922, se por um lado, são absorvidos pela dinâmica da sociedade cultural, por outro, sofrem intenso bombardeio de forças internas ao próprio movimento. Em 1917, a pintora Anita Malfatti tem sua exposição de inspiração modernista desmontada por Monteiro Lobato. Numa crítica hoje célebre, o escritor se mostrava horrorizado com as inovações propostas por aquela estética inovadora. Alguns estudiosos contemporâneos, no entanto, observam que Lobato vocalizava uma reação da sociedade tradicional à miscigenação então em andamento. Em particular, contra o registro do que se escondia atrás da tela O homem amarelo (um japonês amorenado em terras brasileiras). Lembremos que a própria Anita era filha de imigrantes italianos aportados em São Paulo.

Naquele período, a elite procurava construir uma visão sobre si de acordo com a realidade, mas com um projeto ideológico, que perpetuasse o status quo — anacronismo que ocorrerá também noutros países sul-americanos, principalmente Argentina. As ruas diziam outra coisa — identificavam não um cenário europeu, como registrado em obras como as de Eliseu Visconti e Antonio Parreiras, mas um caldeirão onde ferviam diferentes etnias, muitas delas orientais. Pois Tomie Ohtake de certa forma é anunciada, como metáfora, por Anita Malfatti, em “O homem amarelo”, ao mostrar em processo não apenas miscigenação, mas integração cultural, entre uma cultura bruta, ainda disforme, em mutação, e uma civilização milenar.
84 печатни страници
Притежател на авторското право
Bookwire
Оригинална публикация
2017
Година на публикуване
2017
Издател
Lazuli
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