Esta edição das “Trovas burlescas” de Luiz Gama é uma nobre contribuição que homenageia e celebra a figura do grande homem público, tribuno, jornalista, poeta e advogado de escravos que foi este cidadão brasileiro. Seu passado nos remete à lendária mulher negra e guerreira Luiza Mahin, prócere das insurreições baianas, como a revolta dos Malês. Sua garra poética, com forte teor abolicionista, e sua sede por justiça, certamente, advém do seu sangue materno, seguramente, preponderante na mistura com o sangue fidalgo de seu inconsequente pai branco português que o ajudou a gerar, mas que não o amou, não o reconheceu, e, ainda, infante, o vendeu como escravo. Viveu ferozmente os dois mundos: o de ser escravo e ser homem livre, todos eles permeados pela sede de justiça. Foi, justamente, a sede de justiça que o encaminhou para sede do conhecimento. E, ambas para o sentido inexorável de defesa da liberdade de todos os oprimidos negros ou brancos. Seu interesse pelo saber e seu ouvido tisnado para aprender permitiu que o simples e mirrado limpador de salas da Faculdade de Direto do Largo de São Francisco se transformasse no maior rábula da história jurídica. E quando pode fazer a escolha de onde aplicar o conhecimento e o sentido de sua luta de sobrevivência optou pelos que mais precisavam: os negros escravizados. Sua combativa poesia confunde-se com o aguerrido advogado que libertou centenas de homens e mulheres ilegalmente escravizados, por um sistema torpe e hostil, dando a todos novo destino e liberdade. Não por acaso, é este Luiz Gama que a memória do tempo não quer esquecer, sobretudo pelo legado que nos deixou: Luta, resistência e superação. E nós, como parte da nação brasileira, fazemos questão de honrar e homenagear.