(…)
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija
(«Versos íntimos» — 1901)
Augusto dos Anjos (1884–1914) foi ignorado pela crítica do começo do século. Se alguma exceção se abriu, foi para reputá-lo como autor de versos estapafúrdios e aberrantes. Nas décadas seguintes acabou reconhecido como um dos mais admirados e originais poetas brasileiros. Este volume inclui Eu (1912), único livro publicado em vida, e outras poesias publicadas de maneira esparsa. Augusto dos Anjos é, certamente, o precursor da moderna poesia brasileira, poesia esta que daria seu vôo somente em 1922, na célebre Semana da Arte Moderna. – L